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O Jeca Tatu
Segundo o autor, a figura do Jeca Tatu de início tenta caracterizar na literatura o homem rural brasileiro. Trazendo o questionamento sobre até que ponto o Jeca Tatu representaria de fato o homem do interior brasileiro, seja ele o vaqueiro ou o caipira. Com as influências do movimento de saneamento, o Jeca Tatu de Monteiro Lobato passa a ser representado como o caipira anêmico, mas capaz de se regenerar com o auxílio da ciência.
Dessa maneira, o autor tenta debater a figura do Jeca Tatu através de versões positivas e negativas, correspondendo às representações: romântica e naturalista ou cientificista dos brasileiros do interior.
Antes mesmo de ser representado pelo Jeca Tatu, os tipos humanos das áreas rurais do Brasil já vinham sendo representados pelos viajantes e escritores cronistas que transitavam pelo Brasil, eles utilizavam termos como “isolamento, ignorância e ociosidade” para caracterizar os brasileiros dessas regiões. Contudo, os modos de representação acerca do homem do interior variavam intensamente quando comparados através das visões estabelecidas pela literatura, tendo a romântica representada principalmente por José de Alencar na qual se reforça a imagem do homem que detém o domínio sobre a natureza e a herança indígena, além disso, é representado como homem viril e forte.
Já a representação do homem do interior realizada por Euclides da Cunha, de caráter modernista, apresenta uma certa ambivalência, oscilando entre um Hércules e Quasímodo, tendo sobretudo a imagem da preguiça como uma das mais constates representações do caboclo brasileiro. Mesmo assim, a caracterização do caipira como indolente, imprevidente e parasita alcança seu ponto máximo com a criação do personagem Jeca Tatu, elaborado por Monteiro Lobato. Sendo ainda enfatizada a imagem do caboclo predador e destruidor das matas através das queimadas.
A representação do caboclo promovida por Lobato, o coloca na condição de indivíduo que está alheio às transformações políticas e sociais, seja a abolição da escravidão ou a proclamação da república, mostrando sempre a figura de homem preguiçoso. De maneira irônica, Lobato faz referência a José de Alencar, afirmando que o sertanejo que ele encontrou nas viagens pelo interior do Brasil, se distancia completamente da figura idealizada por Alencar. Também não difere essa imagem, a criada por Euclides da Cunha a respeito do sertanejo, na condição de homem que provoca as queimadas, tornando-se um “fazedor de desertos”.
Através dos textos de Luiz Câmara Cascudo, começa haver um debate em todo da figura do Jeca Tatu enquanto símbolo que representava o homem brasileiro e o Brasil enquanto país de Jacas Tatus. E mesmo que os termos: “sertanejo” e “Jeca Tatu” fossem utilizados como sinônimos, passou o sertanejo se diferenciar do Jeca Tatu, por ser “vitimizado” em um ambiente hostil, castigado pelo fenômeno natural das secas.
O autor Oliveira Vianna caracterizava o brasileiro em três tipos nacionais, o sertanejo, o matuto e o gaúcho. O matuto caracterizado por este autor era representado pelo nomadismo e pelos frágeis vínculos sociais que possuía, inclusive com a terra, daí a frequência com que emigrava. Também se observa na obra de Vianna a figura do agregado, homem livre que viva à margem da sociedade formada em torno do latifúndio.
Aos poucos autores como Fernando de Azevedo começa trazer a ideia de que a população do interior é subjugada por não receber a devida atenção do governo, principalmente com relação às políticas de saneamento e educação, colocando essa população numa situação de atraso e miséria. O personagem modernista Macunaíma criado por Mário de Andrade traz uma representação de brasileiro caracterizado de forma crítica, enquanto indivíduo condenado pela miscigenação, indolência e preguiça.
Aos poucos Monteiro Lobato começa a modificar a imagem criada do Jeca Tatu, sendo assim, a ideia de caboclo parasitário passa a sofrer transformações para se tornar um agente de mudança social e modernização. Essa reviravolta dada ao personagem se deve às influências do movimento sanitarista sobre Lobato, dessa forma, ocorre a ressurreição do Jeca Tatu.
O Jeca passa então a se preocupar com as endemias rurais, motivos pelos quais causam a improdutividade do trabalhador nacional. E uma vez que o Jeca consegue se curar dessas doenças, através da adoção de políticas sanitárias e da crença na ciência, faz com que esse personagem torne-se um fazendeiro produtivo, conseguindo inclusive superar os imigrantes italianos. O Jeca Tatu deixa de ser aquele homem cujo trabalho se satisfaz apenas com a sobrevivência para, além disso, ter uma responsabilidade social, se dedicando até mesmo, a educação sanitária e dos trabalhadores rurais.